Páginas

terça-feira, 25 de março de 2014

Capítulo 3

Capítulo 3: O problema do desenvolvimento da linguagem na teoria de Stern

1.     Vigotski classifica Stern como intelectualista, demonstrando que, embora o pensador tenha realizado descobertas de irrefutável valor para a compreensão do desenvolvimento da linguagem humana, sua explicações a respeito dessa função não conseguem ultrapassar o idealismo.
2.     Ao explicar o desenvolvimento da linguagem, Stern aponta para três tendências (expressiva; social para a comunicação; intencional, nesta ordem). As duas primeiras, partilhadas também pelos animais, são sucedidas pela terceira, especificamente humana. O que ocorre, entretanto, é que a terceira não decorreria geneticamente das duas anteriores e sua causa não fica clara, na teoria defendida por Stern. Não há, pois, uma abordagem genética do desenvolvimento da linguagem, dado que o autor se limita a dizer que a terceira etapa do desenvolvimento acontece por se tratar de um ato de pensamento próprio da criança. Trata-se de uma excessiva caracterização lógica da linguagem infantil.
3.     Para Stern, entre um ano e meio e dois anos, a criança descobre a relação entre signo e significado; se torna consciente da função simbólica da linguagem. Vigotski se contrapõe a esta visão, afirmando que o desenvolvimento da linguagem passa por um complicado processo genético, centrado na história cultural dos signos, com etapas próprias que relacionam aspectos naturais e culturais.
4.     Com base nas contribuições da Wallon, Koffka, Piaget e Delacroix, Vigotski afirma:
a.     A palavra é, para a criança, durante muito tempo, um atributo ou característica dos objetos
b.     A criança não descobre a relação entre signo e significado de uma vez por todas; ao contrário, trata-se do resultado de uma série de lentas e complexas mudanças ‘moleculares’
5.     Vigotski reconhece, na teoria de Stern, duas asserções de enorme importância: entre um ano e meio e dois anos, a criança passa por um brusco crescimento de vocabulário; além de surgirem as chamadas perguntas sobre os nomes das coisas. Assim, neste momento, a linguagem emerge como uma forma especializada de comportamento que se sobrepõe a todos os demais tipos de estímulos.
6.     Vigotski e o próprio Stern concordam com Meumann em relação ao caráter emocional e volitivo das primeiras palavras, o que refuta a explicação de que a criança teria desenvolvido, ainda no segundo ano de vida, uma lógica capaz de permitir relacionar signos e significados com tão pouca idade.

7.     Ao relacionar linguagem e pensamento, a teoria de Stern, apesar de intelectualista, perde ainda mais sua coerência interna, ao não explicitar a complexa relação entre pensamento e linguagem. Em relação ao papel do meio, a despeito de considerar a sua importância, Stern a explicita em termos de influência quantitativa (retardo/aceleração) de um processo que é explicado, em suma, como imanente ao indivíduo. Tal concepção está bastante adequada à ideia metafísica, também expressa por Stern, de que a personalidade se autodirige para um objetivo predeterminado. Dessa forma, apesar de lutar contra inatismo e empirismo, Stern não os supera e tem sua teoria do desenvolvimento da linguagem circunscrita a uma abordagem de cunho metafísico.