Capítulo 3: O problema do desenvolvimento da linguagem na
teoria de Stern
1.
Vigotski classifica Stern como intelectualista,
demonstrando que, embora o pensador tenha realizado descobertas de irrefutável
valor para a compreensão do desenvolvimento da linguagem humana, sua
explicações a respeito dessa função não conseguem ultrapassar o idealismo.
2.
Ao explicar o desenvolvimento da linguagem,
Stern aponta para três tendências (expressiva; social para a comunicação;
intencional, nesta ordem). As duas primeiras, partilhadas também pelos animais,
são sucedidas pela terceira, especificamente humana. O que ocorre, entretanto,
é que a terceira não decorreria geneticamente das duas anteriores e sua causa
não fica clara, na teoria defendida por Stern. Não há, pois, uma abordagem
genética do desenvolvimento da linguagem, dado que o autor se limita a dizer
que a terceira etapa do desenvolvimento acontece por se tratar de um ato de
pensamento próprio da criança. Trata-se de uma excessiva caracterização lógica
da linguagem infantil.
3.
Para Stern, entre um ano e meio e dois anos, a
criança descobre a relação entre signo e significado; se torna consciente da
função simbólica da linguagem. Vigotski se contrapõe a esta visão, afirmando
que o desenvolvimento da linguagem passa por um complicado processo genético,
centrado na história cultural dos signos, com etapas próprias que relacionam
aspectos naturais e culturais.
4.
Com base nas contribuições da Wallon, Koffka,
Piaget e Delacroix, Vigotski afirma:
a. A
palavra é, para a criança, durante muito tempo, um atributo ou característica
dos objetos
b. A
criança não descobre a relação entre signo e significado de uma vez por todas;
ao contrário, trata-se do resultado de uma série de lentas e complexas mudanças
‘moleculares’
5.
Vigotski reconhece, na teoria de Stern, duas
asserções de enorme importância: entre um ano e meio e dois anos, a criança
passa por um brusco crescimento de vocabulário; além de surgirem as chamadas
perguntas sobre os nomes das coisas. Assim, neste momento, a linguagem emerge
como uma forma especializada de comportamento que se sobrepõe a todos os demais
tipos de estímulos.
6.
Vigotski e o próprio Stern concordam com Meumann
em relação ao caráter emocional e volitivo das primeiras palavras, o que refuta
a explicação de que a criança teria desenvolvido, ainda no segundo ano de vida,
uma lógica capaz de permitir relacionar signos e significados com tão pouca
idade.
7.
Ao relacionar linguagem e pensamento, a teoria
de Stern, apesar de intelectualista, perde ainda mais sua coerência interna, ao
não explicitar a complexa relação entre pensamento e linguagem. Em relação ao
papel do meio, a despeito de considerar a sua importância, Stern a explicita em
termos de influência quantitativa (retardo/aceleração) de um processo que é
explicado, em suma, como imanente ao indivíduo. Tal concepção está bastante
adequada à ideia metafísica, também expressa por Stern, de que a personalidade
se autodirige para um objetivo predeterminado. Dessa forma, apesar de lutar
contra inatismo e empirismo, Stern não os supera e tem sua teoria do
desenvolvimento da linguagem circunscrita a uma abordagem de cunho metafísico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário